Dados de consulta pública feita pelo Ministério da Saúde sobre o tema foram apresentados nesta terça (4) por secretária da pasta. Especialistas criticam a realização do evento, mesmo após aprovação da vacinação pela Anvisa, bem como discutiram imunização da faixa etária de 5 a 11 anos
O Ministério da Saúde realizou, nesta terça-feira (4), audiência pública para discutir a vacinação contra a covid-19 de crianças com idade de 5 a 11 anos. O debate ocorreu na sede da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), em Brasília. O debate foi aberto pela secretária de Enfrentamento à Covid do Ministério da Saúde, Rosana Leite de Melo, que defendeu a realização da audiência e da consulta pública.
Representantes da pasta e especialistas de entidades ligadas ao tema discutiram A inclusão da faixa etária no Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a Covid-19. Até o momento, somente pessoas com 12 anos ou mais podem se imunizar contra a doença no Brasil.
A audiência foi uma iniciativa do governo federal. O Ministério da Saúde convidou 20 entidades e profissionais ligados ao tema para participar. Minutos antes do início, a Anvisa informou que não iria. Em nota, ressaltou que “já emitiu seu posicionamento, o qual se encontra público e disponibilizado às diversas autoridades médicas, sociedade e ao ministério”. O uso de uma versão pediátrica da vacina da Pfizer em crianças de 5 a 11 anos está autorizado pela Anvisa desde o dia 16 de dezembro.
Rosana Leite de Melo disse que quase 100 mil pessoas participaram da consulta pública e adiantou os principais resultados. Disse que a maioria concordou com a não obrigatoriedade da vacinação, debate que não está em discussão no momento no país e que sempre é levantado pelo Palácio do Planalto. Disse ainda que a maior parte das pessoas concordou em priorizar crianças com comorbidades.
A secretária também divulgou que a maioria foi contra a obrigatoriedade da prescrição médica, mas apresentou a posição do governo a favor do termo de consentimento dos pais e da apresentação da prescrição. “Em todos os casos será exigida a prescrição médica e autorização dos pais ou responsáveis, mediante a assinatura de termo de assentimento. As vacinas devem ser aplicadas seguindo fielmente às recomendações da Anvisa”, afirmou .
Até o momento, pelo menos 20 estados e o Distrito Federal já adiantaram que não vão exigir o pedido médico no ato da vacinação. São eles: Acre, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Santa Catarina, São Paulo e Sergipe.
Representantes da Opas, Socorro Gross, afirmaram que a vacinação das crianças contra a Covid já é uma realidade no mundo. “As vacinas são uma poderosa ferramenta para acabar com a pandemia, porque aumentam consideravelmente a nossa proteção contra a Covid-19. Mas as vacinas sozinhas não vão acabar com a pandemia, como se fosse um passe de mágica. Todos nós precisamos fazer nossa parte. Além de nos vacinar, precisamos continuar com as medidas não farmacológicas”, orienta.
Marjori Dulcine, diretora médica da Pfizer no Brasil, falou em nome do laboratório, o único até o momento autorizado a fornecer o imunizante para o governo. A diretora afirmou que a segurança da vacina foi comprovada. “Os dados de segurança da vacina verificados nesse ensaio clínico foram corroborados por dados de mundo real, onde mais de sete milhões de crianças de 5 a 11 anos já foram vacinadas nos Estados Unidos e o perfil de segurança foi confirmado e continua totalmente favorável”.
Médicos
A Associação Médica Brasileira (AMB) defendeu a vacinação de crianças de 5 a 11 anos. Segundo a entidade, a autorização da Anvisa para a aplicação do imunizante segue os mesmos critérios de segurança e eficácia utilizados para as demais faixas etárias. “Enfatizamos que crianças podem também serem acometidas pela Síndrome Inflamatória Multissistêmica associada ao SARS-Cov-2; desenvolverem sequelas e covid longa. Portanto, a vacinação é essencial para reduzir/evitar sofrimento, hospitalizações e mortes”, declarou a AMB.
A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) também divulgou nota técnica em que defende uma análise técnica rigorosa por parte da Anvisa no processo de autorização do imunizante. A entidade destacou que a vacinação infantil já foi iniciada em outros países e é considerada ferramenta fundamental no controle da pandemia.
O governo ficou de anunciar nesta quarta-feira (5) a posição oficial do país em relação à vacinação das crianças. Mais cedo, nesta terça, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, disse que as primeiras doses da vacina para imunizar as crianças de 5 a 11 anos devem começar a ser distribuídas na semana do dia 10 de janeiro.