Inaugurado em 1958, o Lord Palace recebia artistas e celebridades, mas passou a perder hóspedes a partir de 2000, até ser ocupado por movimentos populares em 2010. Agora, é residencial reconhecido pelo poder público.
Elza Soares, uma das maiores cantoras do Brasil, estampa em cores quentes e tons pastel o muro de um prédio no Centro de São Paulo que, em tempos áureos de boemia paulistana, era endereço de um luxuoso hotel, o Lord Palace.
Inaugurado em 1958, o local recebia artistas e celebridades, mas, desde os anos 2000, foi perdendo os hóspedes e a fama. Foram anos de portas fechadas, até que foi ocupado em 2010.
A reintegração de posse foi determinada pela Justiça, mas, depois de extensas negociações com a Prefeitura de São Paulo, o prédio foi destinado para habitações populares.
A Frente de Luta por Moradia ganhou o chamamento público e o direito de investir R$ 22 milhões de financiamento na reforma.
Na pintura, a artista segura uma chave. Ao lado de sua mão, a frase “Nenhuma mulher sem casa”. A Mulher do Fim do Mundo não foi escolhida por acaso para dar cara ao agora Residencial Elza Soares.
O hotel fez parte de sua complexa história há quase 60 anos: era 11 de setembro 1964, uma sexta-feira. Sua companhia era Garrincha, bicampeão mundial de futebol. O casal foi impedido de se hospedar no Lord por racismo.
Moradia popular após anos de luta
Décadas depois, após muita luta, Adriana Fester, copeira hospitalar, foi uma das primeiras moradoras do residencial. Ela viveu no endereço quando ainda era ocupação. Foram anos no improviso.
O coordenador da Frente de Luta por Moradia, Osmar Borges, destaca que o processo só deu certo porque houve muita resistência. “É um processo de 30 anos. Na década de 1980, 1970, não tinha política de habitação. Foi um processo de construção dos movimentos que fazem a luta pela cidade.”
Uma construtora e um escritório de arquitetura fizeram o retrofit da parte que um dia foi hotel. Uma nova unidade com mais de 30 apartamentos foi construída ao lado para abrigar mais gente. Hoje, são 176 apartamentos.
Fonte: G1
“Hoje, quando eu entro no meu apartamento, saio de lá chorando, chorando de emoção, que deu certo. E vou continuar na luta pelos que não conseguiram, pelos que não têm casa”, disse a autônoma Maria Aparecida Rodrigues.
Déficit habitacional na capital
A cidade de São Paulo tem cerca de 169 mil pessoas cadastradas na lista de demanda habitacional.
Segundo a prefeitura, o déficit é de 369 mil domicílios, mais que o dobro.
O número inclui moradias novas, reabilitadas para o enfrentamento das condições de precariedade habitacional.
A prefeitura disse que aprimorou e ampliou os instrumentos de atendimento para reduzir o déficit habitacional na capital e para também atender o maior número de famílias por meio do programa Pode Entrar.
Disse também que, recentemente, publicou um edital pela Secretaria de Habitação para a compra de 40 mil unidades habitacionais, com investimentos de R$ 8 bilhões, em parceria com a iniciativa privada.
Atualmente, há 1,4 mil novas moradias sendo construídas na cidade, segundo a prefeitura.