Livro reúne mulheres que venceram o machismo e se tornaram damas do samba
Ao começar a conceber o livro “Canto de rainhas”, o jornalista e escritor Leonardo Bruno havia idealizado uma proposta, entretanto, o ABCDE, nesse caso, era composto por Alcione, Beth Carvalho, Clara Nunes, Dona Ivone Lara e Elza Soares. As primeiras letras já foram suficientes para o autor trazer a história do samba e de vida dessas mulheres que romperam barreiras e se tornaram damas da Música Popular Brasileira.
Além de serem cantoras que forjaram a nossa paixão pelo samba, elas têm em comum o fato de serem mulheres que conseguiram vencer em um lugar de muito machismo. Em noite de autógrafos ocorrida recentemente, o autor Leonardo destacou que ao começar a pesquisar, observou que o livro não poderia simplesmente contar as histórias delas; mas teria que ressaltar a superação de adversidades vividas por cada uma delas.
Esse olhar sobre o machismo que cantoras sofrem até hoje no samba ainda fez o autor ampliar o seu universo. Além dos capítulos em que se dedica à trajetória de cada uma das cinco, ele aborda outras vozes de sucesso desde o século passado até cantoras que estão em plena atividade, incluindo mulheres da novíssima geração do samba.
A narrativa traz à tona questões tão presentes em todas as histórias, no coletivo, e a partir daí fica mais fácil entender que isso é estrutural. Esse termo que tanto se utiliza na atualidade , auxilia a compreender, segundo Leonardo, que, na atualidade ainda há mais barreiras quando é uma mulher negra. Outras quando ela é pobre. Então soma aí racismo, machismo e elitismo.
As quase 400 páginas são compostas por curiosidades apuradas e escritas ao longo de três anos de pesquisa e trazem ainda casos específicos vividos por cada uma delas. Dona Ivone Lara, por exemplo, nunca foi oficialmente da ala de compositores do Império Serrano. Elza Soares tem histórias fortes de violência física. Ainda aos 7 anos, ela quase sofreu um estupro. No disco “No pagode”, de Beth Carvalho, de 1979, a ficha técnica tem 65 homens e o nome dela.
Essa obra remete a seguinte reflexão: A mulher só era aceita na posição de cantora porque era o único lugar em que ela não poderia ser substituída por um homem, por conta da voz feminina. Outro exemplo é que, em 1987, Alcione fundou a Mangueira do Amanhã (escola de samba mirim), tentou colocar mulheres tocando na bateria e foi vetada. Uma mulher só é aceita numa bateria da Mangueira adulta em 2007, 20 anos depois.
Essas e outras narrativas muito interessantes é possível encontram na obra “Canto de Rainhas: O poder das mulheres que escreveram a história do samba”, de Leonardo Bruno.
O Autor
LEONARDO BRUNO é jornalista, roteirista e autor de cinco livros, entre eles Zeca Pagodinho— Deixa o samba me levar; Três poetas do samba-enredo — Compositores que fizeram história no carnaval; Explode, coração — Histórias do Salgueiro; e Cartas para Noel —Histórias da Vila Isabel. No mercado jornalístico, atuou como colunista, editor de cultura e gerente de negócios do jornal Extra. Foi apresentador do programa Roda de Samba Ao Vivo, editor da revista Rio, Samba & Carnaval e criador do Carnaval Histórico. É pesquisador do Observatório do Carnaval, no Museu Nacional (UFRJ), e desde 2013 faz parte do júri do Estandarte de Ouro. Foi comentarista dos desfiles da Série A na TV Globo em 2020.