Projeto histórico apelidado de Wallis Annenberg irá permitir que a fauna nativa das montanhas de Santa Mônica atravesse em segurança um trecho de 10 pistas de rodovia
Já imaginou você dirigindo e de repente avistar um leão ou um urso fazendo uma travessia tranquila bem na sua frente? Em uma das estradas mais movimentadas da Califórnia, na rodovia 101 perto de Los Angeles, em breve isso pode ser uma realidade. Isso porque teve início um projeto histórico que promete ser o maior viaduto de vida selvagem do mundo, que deve ser concluído até 2025. Em comemoração ao início da construção, uma cerimônia especial irá acontecer no Dia da Terra, 22 de abril.
A ponte será um corredor entre duas partes das montanhas de Santa Monica, permitindo que a fauna nativa – especialmente lagartos, cobras, sapos e leões da montanha – atravesse em segurança um trecho de 10 pistas da rodovia, sem risco de atropelamento e morte. Estima-se que ao menos 100 leões da montanha vivem na área.
Mas não é uma ponte qualquer, viu? A travessia de 210 pés de comprimento e 165 pés de largura também está sendo considerada por especialistas, uma “maravilha da engenharia”. Ela será envolta em plantas locais e paredes de som vegetadas para amortecer a luz e o ruído de veículos, enquanto os animais fazem a passagem. O arquiteto paisagista da Living Futures em Chicago, Robert Rock, que liderou o projeto, afirmou ao The Guardian que esse tipo de construção centrada na natureza a torna incomum entre outras pontes e passagens subterrâneas de vida selvagem ao redor do mundo, que normalmente são feitas de cimento e aço.
O início das obras traz esperança para a preservação da biodiversidade, já que a rodovia é conhecida por levar à alta mortalidade de animais – cerca de 300 mil carros passam todos os dias. Desde 2002, pelo menos 25 leões foram mortos por lá e a última morte foi há apenas algumas semanas, em 23 de março, quando um jovem felino da espécie perdeu a vida atravessando uma estrada da costa do Pacífico.
Um dos idealizadores do projeto, Beth Pratt, ecologista urbana da National Wildlife Federation, conta ao jornal The Guardian que passou a maior parte da última década planejando a obra, reunindo partes interessadas e doadores para financiá-la. “Ainda estou um pouco tonto, mas me sinto aliviado: temos a chance de dar a esses leões da montanha uma chance de futuro.”, disse em entrevista.
O projeto irá custar US$ 90 milhões e será pago 60% por meio de doações privadas, sendo o restante proveniente de fundos públicos reservados para fins de conservação. O arquiteto Robert Rock diz estar otimista de que o investimento possa servir como um exemplo de como o design pode desempenhar um papel restaurador no mundo natural. “Como uma ferramenta e um símbolo de conexão, será um desafio atraente para as gerações futuras pegar o manto do design para preencher as lacunas em outras partes do mundo”, diz ele.
As travessias de vida selvagem estão cada vez mais comuns em todo o mundo. É o exemplo de um parque nacional em Banff, no Canadá, onde há mais de 40 passagens subterrâneas e viadutos desse tipo e houve uma redução de 90% nas colisões de veículos em animais.
Nos Estados Unidos, Joe Biden destinou US$ 350 milhões dos recursos de infraestrutura para a construção de pontes, passagens subterrâneas e cercas nas estradas. Segundo Beth Pratt, o projeto lutou para arrecadar dinheiro nos primeiros dias de planejamento, mas felizmente encontrou quem entendesse sua importância na preservação.
Fonte: Um Só Planeta