Apesar da vida ter nos distanciado, fomos muito próximos na adolescência. Eu ia ver o Vi nas suas rinhas, “ escorvando “ seus galos, ali na casa dos avós dele, seo Reynaldo e dona Isaura Romanelli.
Somos quase da mesma idade. Depois, eu colaborador do Estoril, vibrava com os jogos de basquete que lotam o Ginásio de Esportes. E o Vicentão ali, junto com tantos atletas de fora, com o Marinho Paiola e o Má Prado eram os matonenses do Estoril.
E depois, a faculdade dele em Uberaba, o emprego nas fazendas da Marchesan, a minha faculdade em Araraquara, e a vida nos distanciou.
Mas, depois que ele passou a ser o dono do Posto Estrela, junto com o Adrianão (a família é tudo no superlativo), incontáveis vezes, ao abastecer, lá vinha ele perguntando sobre água, óleo e limpeza dos para-brisas.
Hoje, entretanto, logo pela manhã, no exato instante em que eu estava falando no Pronto Socorro, por volta de 10h15, recebi a notícia: “ Paulo, seu primo Vicente chegou aqui agora, baleado. “
Imediatamente fui ao Pronto Socorro, tentei – na medida do possível – passar uma certa tranquilidade e esperança para o Adriano e entrei na sala de emergência.
Lá estavam 4 médicos e um incontável número de pessoas da enfermagem, num esforço hercúleo para que fosse revertida a parada cardíaca. Foram minutos de intensa agonia.
E a cada familiar que chegava, a Cristiane, depois a esposa Giovana, a esperança sempre era renovada.
Sabia que a situação era delicadíssima. E eu fiquei ali, parado, estático diante da mais dura das realidades da vida: a morte.
As mãos delicadas das médicas e das enfermeiras massageando firmemente o tórax; outras mãos injetando medicação; e foram chegando mais e mais profissionais.
A Dra. Thaysa Victure, cardiologista, veio em socorro e assumiu a condução do caso, com todas as demais médicas e enfermeiras/técnicas que ali estavam.
Massageavam até a exaustão e trocavam de mãos, sem paralisar um segundo o esforço de todos pela vida do Vicente.
Chegou o Dr. Rodolfo, cirurgião torácico e ali mesmo, no pronto socorro, providenciaram uma intervenção cirúrgica para tentar o que já parecia tão impossível: que a vida dele ressurgisse. Tinha pulso, mas o coração não respondia a tantas massagens, adrenalinas e
outras medicações e nem mesmo às mãos ágeis e habilidosas de tantos rostos anônimos.
E ali, no instante em que a morte venceu a vida, eu vi, claramente, como nós não somos nada e que somos totalmente impotentes diante da vontade soberana de Deus.
Teve momentos que eu mesmo tive vontade de massagear o peito do Vicentão, tamanho era o meu desespero em ver a tristeza no rosto do Adriano, da Cris, da Giovana e de tantos amigos que vieram confortar e rezar. Sim, rezar. Foram todos à capela para pedir pela
vida do Vicente.
O que fizeram com ele, esses assassinos frios, é algo inconcebível. Já não é de hoje que estamos pedindo mais policiais civis e militares, mais viaturas e o armamento da Guarda Municipal.
E não digo isso, agora, porque o meu primo morreu. Já há tempos estamos pedindo providências.
Mas ainda que tardiamente, vamos continuar insistindo.
O fato, e o objetivo desse artigo, é me curvar perante a morte e me declarar totalmente impotente frente a ela. E reconhecer algo que é lugar comum. O esforço e a luta dos médicos e enfermagem do Pronto Socorro. Foram até a exaustão. Não deu!
E dizer que Deus conforte o coração da Giovana, da Mariana, da Lúcia, Monica e Adriano e todos os seus familiares e amigos.