A economia circular baseia-se em repensar a forma de desenhar, produzir e comercializar produtos para garantir o uso e a recuperação inteligente dos recursos naturais. Trata-se de um aperfeiçoamento do sistema econômico atual, que visa um novo relacionamento com os recursos naturais e a sua utilização pela sociedade.
Ao observar os ciclos naturais, é possível perceber uma lógica circular na geração e no uso e reuso de recursos. Uma árvore, por exemplo, brota da semente, retira forças do solo e da energia solar e gera frutos, que retornam para a terra e dão origem a novas árvores. É justamente dessa dinâmica que vem a inspiração para a economia circular.
O conceito associa desenvolvimento econômico e uso otimizado de recursos naturais, por meio de novos modelos e processos, dando preferência a insumos duráveis, recicláveis e renováveis. Trata-se, dessa maneira, de um modelo que se relaciona com a tomada de consciência ecológica e com a urgência de se pensar a sustentabilidade.
Economia linear
Para explicar a economia circular, é preciso, inicialmente, definir seu oposto: a economia linear.
Na economia linear, toda a cadeia produtiva é baseada na extração contínua e crescente de recursos naturais. Estes são utilizados para a confecção de produtos que serão utilizados durante a sua vida útil até o seu descarte como resíduo, como por exemplo, um aparelho celular, o qual possui elementos originários da extração de minérios de cobre e alumínio. Mas, quando ele é descartado, qual o destino desses metais?
Apesar da maior consciência, em décadas recentes, sobre relações sustentáveis de produção e consumo, o mundo ainda se encontra em desequilíbrio nesse ponto.
A Economia Circular
Economia circular é um conceito que surgiu na década de 1970, e ganhou força na década de 1990, propondo uma mudança na forma como os recursos naturais são geridos.
De acordo com a Ellen MacArthur Foundation, fundação britânica que promove os princípios desse novo modelo socioeconômico, a economia circular pode ser definida como uma estrutura de sistemas que abordam desafios globais, como mudanças climáticas, perda de biodiversidade, resíduos e poluição.
Essa visão torna-se ainda mais importante em um contexto em que o consumo de bens, como telefones celulares, roupas, brinquedos e outros produtos, cresce continuamente, muitas vezes, estimulado pela chamada obsolescência programada.
Na prática, a obsolescência programada pode ser definida como um recurso, dentro de um modelo de negócios de diversos fabricantes. A ideia é criar produtos, com estratégias de atualização, que implicam na redução da vida útil deles. Dessa maneira, os consumidores são incentivados a adquirir uma nova versão de um objeto que poderia durar muitos anos mais.
Ao lançar mão de energias renováveis e focando na durabilidade e no uso inteligente de produtos, a economia circular objetiva o desenvolvimento sustentável, a fim de gerir de forma mais eficiente esses recursos finitos. Para isso, estimula a reutilização e a reciclagem de materiais sempre que possível, de modo a contribuir no combate dos efeitos das mudanças climáticas. Alguns benefícios desse processo são : economia de energia e matérias-primas; diminuição da poluição do ar, da água e do solo, tornando as cidades mais limpas; geração de renda pela comercialização dos recicláveis; transformação dos cidadãos em agentes da preservação, com a aquisição do hábito de separar seu próprio lixo.
Desafios e oportunidades da economia circular
A adoção massificada dos princípios da economia circular representam uma solução para os recentes efeitos da escassez de matérias-primas, notada recentemente, por exemplo, na indústria automobilística.
Devido à falta de componentes eletrônicos, carros novos demoram mais tempo e custam mais para serem montados. Esse é um dos fatores que contribuíram para a escalada recente no preço desses veículos e, consequentemente, dos usados, que passaram a ser uma alternativa interessante contra a baixa oferta e os preços aquecidos dos zero quilômetro.
A crescente escassez de algumas matérias-primas é uma das principais forças que levam o planeta na direção da adoção dos princípios da economia circular. É isso o que afirma o relatório Economia Circular: oportunidades e desafios, publicado em 2018 pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).
De acordo com o estudo, o primeiro desafio para a transição em direção a esse novo padrão mais sustentável está na mudança de mentalidade, ou seja, no modo de operação atual, o foco está em extrair, explorar, produzir e descartar. A ética de trabalho pauta-se pela competição, enquanto a visão dos consumidores é de baixa consciência sobre os impactos do seu modo de vida para o planeta. Já na economia circular, a ética de trabalho é voltada para a cooperação entre diferentes agentes.
Nesse modelo, mais limpo e mais ecológico, as pessoas já não são apenas consumidores passivos, mas usuários do sistema socioeconômico, dispostos a contribuir para a sua sustentabilidade e para se tornar realidade é preciso inovar. E também é fundamental que sejam construídas as condições para isso, por meio de leis de incentivo, pesquisas acadêmicas, investimentos e novos produtos e serviços.
Com essa mudança de paradigma, poderão ser criadas diversas oportunidades, inclusive de investimento, nesse mercado em crescimento. As organizações engajadas no desenvolvimento sustentável têm tudo para expandir. É o caso das empresas ASG (Ambiental, Social e Governança), por princípio, comprometidas com uma demanda social, passando pela adoção de práticas sustentáveis.
A Economia Circular é possível a partir da mudança de paradigmas, de transformação de mentalidades.