Sergio Muller, que também atua no Instituto Butantan, diz que momento é de lembrar que, como reforça a Organização Mundial da Saúde, a pandemia não acabou, e buscar preservar os hábitos saudáveis adquiridos ao longo dos últimos dois anos
O médico e professor da Unesp Sergio Muller fez críticas ao anúncio, realizado pelo ministro da saúde, Marcelo Queiroga, de que o governo brasileiro vai decretar o fim da Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional relacionada à pandemia de covid-19. Na visão do docente da Faculdade de Medicina de Botucatu, esta é uma medida burocrática descabida e fora de hora, que passa uma mensagem à população que pode prejudicar estratégias de saúde pública em andamento.
Sergio Muller já atuou na coordenação de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo e hoje trabalha no Instituto Butantan, uma das instituições de pesquisa do país mais envolvidas com o desenvolvimento de vacinas contra a covid-19 e a oferta de imunizantes à população. O médico frisa que o anúncio feito pelo ministro da saúde, que ocorreu na noite de domingo, 17 de abril, vai no sentido contrário de manifestações recentes da Organização Mundial de Saúde de que a pandemia ainda está longe de terminar.
Na prática, o fim do estado de Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional anunciado pelo governo federal, que ainda deve ser oficializado, vai revogar uma portaria de fevereiro de 2020, encerrando o caráter de excepcionalidade nas compras realizadas pelo serviço público relacionadas à covid-19. Em seu pronunciamento, o ministro da saúde Marcelo Queiroga afirmou que a melhora do cenário epidemiológico, a ampla cobertura vacinal da população brasileira e os serviços de assistência prestados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) foram as bases para que o governo decidisse formalizar o fim da emergência sanitária no país.
“O final do estado de emergência, sem que a Organização Mundial de Saúde tenha decretado o final do estado de pandemia, incorre em alguns equívocos”, diz Muller. “Será que é possível, mesmo considerando-se que o Brasil é soberano para tomar suas decisões, adotar medidas isoladamente? Não seria melhor que essas medidas fossem adotadas segundo um plano global, sob a organização da Organização Mundial da Saúde?”, questiona Muller, em conversa com o Podcast Unesp (ouça a íntegra abaixo).
Sergio Muller acredita que, embora estejamos vivendo um período de reabertura dos espaços sociais e retomada da ressocialização interrompida desde 2020, é o momento de reforçar posturas cidadãs e a responsabilidade individual para que se preservem os hábitos saudáveis adquiridos ao longo dos últimos dois anos. Não é hora para festejar o fim da pandemia. “É necessário ter cautela ainda. Precisamos deixar muito claro sempre para a população o seguinte: a pandemia não acabou. Houve uma manifestação nesta semana do presidente da Organização Mundial de Saúde em que ele foi um pouco mais incisivo até: disse que, além de não ter terminado, está longe de terminar e pode haver surpresas. Essa necessidade política de dizer para a população que nós estamos no mundo da normalidade é descabida, completamente”, afirma o professor da Unesp.
No Brasil, cerca de 662 mil pessoas já morreram em decorrência da covid-19, em um universo de aproximadamente 30 milhões de casos da doença. Em todo o mundo, já foram contabilizados mais de 500 milhões de casos.
Fonte: Jornal UNESP