O vírus da gripe Influenza A H3N2 tem se espalhado rapidamente pelo Brasil e deixado vários estados em situação de alerta por conta do aumento no número de casos e mortes.
O Rio de Janeiro computa 5 mortes causadas pelo subtipo H3N2 e mais de 20.000 casos confirmados em decorrência da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) provocada pela Influenza, desde o início de novembro até 15 de dezembro, segundo a Secretaria Municipal de Saúde da Prefeitura do Rio.
“Na realidade, o vírus Influenza já existe a milhares de anos. Ele foi responsável pela gripe espanhola, pela gripe aviária, pela gripe dos suínos. E agora está aparecendo uma nova variante – H3N2- que está provocando esse surto no Rio de Janeiro, e com certeza vai atingir o Brasil todo”, avalia o Dr. Carlos Machado, médico preventista.
Segundo o pesquisador Marcelo Gomes, coordenador do InfoGripe da Fiocruz, a variante H3N2 circula entre a população desde 1960, mas esse ano ela sofreu uma nova mutação na Austrália, que logo se espalhou pelo mundo e chegou ao Brasil. Também é conhecida como variante Darwin, em referência à cidade em que ela foi sequenciada.
O estado de Alagoas confirmou 21 casos e três mortes pelo vírus, mas ainda não foi identificado o subtipo que causou os óbitos. Já na Bahia, houve duas mortes pelo subtipo H3N2 e a Secretaria de Saúde do estado alerta para possível surto na capital Salvador. Em Pernambuco, o governo confirmou, no começo dessa semana, que já são 42 casos e uma morte por influenza A H3N2.
No Espírito Santo, segundo a Secretaria Estadual da Saúde (Sesa), ao menos 74 pessoas ficaram doentes e duas morreram após infecção pelo vírus da influenza H3N2. No começo da semana, a Secretaria de Estado da Saúde do Paraná registrou a primeira morte relacionada à nova variante, além de 20 casos já confirmados.
Os estados de São Paulo, Pará, Amazonas, Rondônia e Goiás estão em alerta por conta da alta no número de casos, apesar de ainda não terem registrado óbitos relacionados ao subtipo H3N2.
Quais os sintomas da Influenza H3N2?
Assim como ocorre com o coronavírus, o vírus H3N2 é facilmente transmitido de pessoa para pessoa, por meio de gotículas expelidas pela tosse, espirro ou fala. Segundo o Dr. Carlos Machado, os sintomas são semelhantes ao de uma síndrome gripal. “Os sintomas provocados são semelhantes a um quadro infeccioso viral e os mais comuns são febres, tosse seca, dor no corpo. Em crianças, pode dar dor de barriga e diarreia”, esclarece.
O médico também afirma que os sintomas podem ser parecidos com os de Covid-19. Mas, no caso da influenza, eles são mais intensos nas primeiras 48 horas; já na Covid, eles aparecem a partir do 5º ou 6º dia. Mesmo assim, se houver dúvidas, é preciso fazer o teste para ter o diagnóstico preciso.
A assistente administrativa Aline Gomes, de 25 anos, mora na Zona Portuária da capital Rio de Janeiro e contraiu o vírus no começo de dezembro. “Tive muita dor no corpo, febre, dor de cabeça, meu nariz ficou congestionado e muita coriza. Durou, mais ou menos, uns cinco dias, sendo que nos três primeiros dias foi muito forte, mas depois foi amenizando. A tosse ainda tá um pouco comigo”, conta. Ela acrescenta que, além dos remédios e muita água, o repouso foi essencial para sua recuperação.
As prevenções para não contrair o vírus da Influenza são as mesmas que já estamos acostumados desde o começo da pandemia de Covid-19: uso de máscaras, higienizar as mãos com frequência e evitar aglomerações.
Surto inesperado
Para o pesquisador Marcelo Gomes, coordenador do InfoGripe da Fiocruz, há dois principais motivos, de acordo com o que se sabe até agora, para o surto acontecer nessa época: o isolamento social provocado pela pandemia e a baixa adesão à vacina da gripe. “A partir do final de março de 2020, nós aderimos às medidas de prevenção contra a Covid-19 e isso se estendeu pelo ano todo, até a gente começar a flexibilizar e relaxar cada vez mais esse ano. Ou seja, voltar a se expor mais. Isso traz como consequência o fato de que a gente não teve nem a imunidade natural, por estarmos em isolamento, e nem a proteção da vacina”, ressalta.
Como resultado disso, os surtos de gripe, historicamente mais comuns no outono e inverno, começaram, esse ano, no final da primavera e pode se estender pelo verão, intensificados pela nova mutação H3N2 oriunda da Austrália.
Vacinação contra a gripe
De acordo com o Ministério da Saúde, em 2021, foram aplicadas cerca de 67 milhões de doses e distribuídas 80 milhões para todos os estados e Distrito Federal, dentro da Campanha Nacional de Vacinação contra Influenza. Contudo, o pesquisador destaca que a nova cepa H3N2 não é compatível com as cepas presentes na vacina da gripe.
“A vacina da gripe é composta por três vírus: uma cepa da Influenza A, que é H1N1; uma cepa da Influenza A, que é H3N2; e uma cepa do vírus da Influenza B. A escolha de qual cepa vai entrar na vacina é feita de acordo com o que aconteceu na temporada passada. No nosso hemisfério, é por volta de setembro que se bate o martelo para saber qual será a composição da vacina para o ano seguinte. Então, naquela época, essa variante do H3N2 não era a dominante, e não tinha indícios de que ela passaria a ser dominante agora”, explica.
Gomes acrescenta que esse não é um caso isolado, que é “da natureza da biologia” que o vírus da gripe mude de forma acelerada e que, mesmo que a vacina disponível não tenha uma proteção específica contra a nova cepa, é importante se vacinar para prevenir infecções causadas pelas demais cepas.
O Instituto Butantan, maior produtor de vacinas para a gripe do Hemisfério Sul, confirmou que já iniciou a preparação dos bancos virais para atualizar o imunizante contra a nova variante, e que as vacinas devem estar disponíveis para os brasileiros no começo de 2022.
Redação: Eliana Saraiva, com informações da FIOCRUZ e Instituto Butantan.