Rafael Lucchesi , diretor de Educação e Tecnologia da CNI, disse que o Brasil precisa apostar em inovação e que o investimento em ciência e tecnologia precisa aumentar, se o país quer crescer de forma sustentada nas próximas décadas
No ano passado, o Brasil ocupou apenas a 57ª posição no ranking do Índice Global de Inovação (IGI), divulgado pela Organização Mundial da Propriedade Intelectual. A colocação é incompatível com o fato de a economia brasileira estar entre as dez maiores do mundo e com o desejo do país de entrar na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), uma vez que a média de investimento em inovação desses países é bem superior à nacional.
Mas o cenário pode ser revertido, segundo Rafael Lucchesi, diretor de Educação e Tecnologia da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Ele afirmou que isso depende, principalmente, de o país apostar na indústria, que é de onde saem as inovações tecnológicas. Segundo Lucchesi, o Brasil investe pouco mais de 1% de seu Produto Interno Bruto em inovação, enquanto outros países chegam a gastar mais de 4% do PIB. A inovação é o principal fator de competitividade para as empresas. E como o dispêndio em inovação tem um elevado risco, todos os países apoiam fortemente criando externalidades e criando formas de apoio para que suas empresas inovem. E isso é decisivo, fazendo com que haja um maior retorno para toda a sociedade: desenvolvimento econômico, geração de emprego, renda e carga fiscal. Essa é uma receita em todo o mundo.
Na analise de Lucchesi, o Brasil se mostra para trás nas últimas décadas desde que perdeu a perspectiva de uma política industrial moderna, sobretudo como se discute hoje no mundo. Não é apenas um gasto ofertista em ciência, mas articulação de ciência, tecnologia e inovação como um componente central de uma política industrial moderna. Essa é a agenda que os principais países têm. O Brasil tem um duplo problema. Nós gastamos pouco em ciência, tecnologia e inovação. Pouco acima de 1% do PIB, quando deveria ficar acima de 2%, pelo menos. A média dos países que compõem a OCDE é de 2,7%. Israel e Coreia do Sul se aproximam de 5%. Japão, Alemanha e Estados Unidos estão acima de 3%. Então é claro que se o Brasil busca ambições nas cadeias mais sofisticadas, nas cadeias de maior valor agregado, nas cadeias que vão gerar o emprego e o PIB do futuro, nós temos que construir políticas de longo prazo, uma articulação entre políticas industriais do século XXI, onde tem centralidade o gasto de ciência, tecnologia e inovação.
Relação entre a inovação e a indústria
A vantagem da atividade industrial , segundo Lucchesi, é que ela gera cadeias sofisticadas e longas, criando toda uma interação com o setor de serviços. Uma economia que é baseada em atividades de cadeias curtas, em commodities agrícolas ou minerais, vai gerar, por correspondência, uma estrutura de serviço pouco sofisticada e com empregos pobres com relação ao futuro e também com baixa adição de valor. Isso tem acontecido no Brasil nas últimas décadas, e é preciso criar uma especialização regressiva, porque o Brasil perdeu a perspectiva de uma política industrial.
Lucchesi afirma que o Brasil foi o país que mais cresceu no mundo a partir da segunda guerra mundial, entre as décadas de 30 e 80. Durante 50 anos o Brasil liderou o crescimento mundial e fez isso buscando fortemente a estruturação de um parque industrial complexo e integrado. Mas nas últimas quatro décadas o Brasil perdeu o protagonismo em políticas industriais modernas, exatamente o enredo que os tigres asiáticos fizeram nesse período.
O diretor de Educação e Tecnologia da CNI disse que o país liderava esse processo. Países como a Coréia do Sul, que tinham uma renda per capita que era um terço da brasileira, mandava missões para estudar o Brasil. Hoje a Coréia do Sul tem uma renda per capita três vezes a brasileira.
Impactos que a desindustrialização causou
A taxa de crescimento brasileira nos últimos 40 anos. De acordo com Lucchesi, é a metade da taxa de crescimento dos países ricos, da média da OCDE, ou seja, O Brasil abdicou de uma situação em que liderava o crescimento econômico no mundo para uma situação de sub crescimento, onde o hiato entre o crescimento brasileiro e das principais potências está criando um fosso que se amplia, ou seja, o Brasil retrocedendo.
O Brasil, a reindustrialização e o potencial no agronegócio
O Brasil possui temos vantagens comparativas e competitivas no setor de commodities minerais, no agronegócio, e eles são importantes. É o que afirma Lucchesi e, ainda, completa que o país possui uma carga fiscal que penaliza a indústria brasileira. Segundo Lucchesi, o Brasil conta com um conjunto de burocracias e uma inação na agenda de defesa do setor industrial brasileiro que é uma contradição com o que acontece no resto do mundo. Então, é preciso precioso pensar que mesmo para a competitividade do setor de commodities minerais ou do agronegócio, o seu desenvolvimento tecnológico está umbilicalmente vinculado à indústria, que vai produzir os defensivos, os fertilizantes, toda a agenda de biotecnologia.
Em sua analise, Lucchesi comenta que o Brasil não pode repetir a história de maneira tão trágica e de forma tão esvaziada aceitando passivamente essa posição subalterna de perder a participação nos segmentos de média e alta tecnologia. Para um país com mais de duzentos milhões de habitantes e oito milhões de quilômetros quadrados, não cabe pensar pequeno.
Ele defende que para mudar esse cenário é necessário resgatar ambições maiores O Brasil saiu de uma condição de uma sociedade rural e agrícola na virada dos anos vinte para os anos trinta e foi um salto progressivo. Como país é necessário pensar e ter claro que no mundo inteiro a grande agenda é de desenvolvimento industrial. O grande jogo e que está no centro da disputa geopolítica no mundo é uma enorme guerra fria pelo controle e o domínio profundo das tecnologias promotoras da indústria 4.0: a internet das coisas, a inteligência artificial, o big data, a indústria aditiva e a economia digital.
Fonte: CNI