Lula anunciou a participação de Anielle Franco, irmã de Marielle, como parte da equipe de transição do governo. Ela compõe o grupo que trabalha sobre políticas de proteção às mulheres
O governo de Luiz Inácio Lula da Silva tem a obrigação de garantir que a impunidade não prevaleça no caso do assassinato de Marielle Franco, vereadora carioca morta em 2018. O alerta é de Clément Nyaletsossi Voule, relator da ONU sobre o direito à associação pacífica.
O relator contou que irá enviar uma carta ao presidente eleito para tratar justamente desse caso, considerado como emblemático da violência no Brasil. Ele salientou ainda que “se o novo governo quer ser levado a sério, ele terá de lidar com esse caso”, disse o relator, em conversa em Genebra. “Ele precisa garantir que as investigações cheguem até as pessoas que ordenaram o crime, e não apenas até quem puxou o gatilho. Mas quem planejou e quem está na base disso”, disse. “Isso deve ser uma prioridade, inclusive para a imagem do Brasil”, destacou o relator.
No Brasil, Lula anunciou a participação de Anielle Franco, irmã de Marielle, como parte da equipe de transição do governo. Ela compõe o grupo que trabalha sobre políticas de proteção às mulheres. O relator da ONU insistiu que o caso de Marielle é uma espécie de símbolo de um país onde a luta contra a impunidade não é feita de maneira séria, e completou, dizendo que , em países há violência política e uso excessivo de forma, e ter alguém como Marielle sendo morta sugere que todas as demais mulheres que querem ou almejam ter essa posição, precisam ter cuidado.
“O governo precisa usar esse caso para dizer que não irá aceitar nenhum ataque contra qualquer pessoa sem que haja um processo”, disse o relator. “Marielle é a ilustração de que o Brasil não está levando essa luta como algo sério”, insistiu.
Segundo Voule, não houve vontade de lidar com a impunidade. Ele lamentou que esse caso tratando há anos, com a atenção internacional e necessita de uma solução. O relator da ONU disse que se “o caso dela não pode ser lidado, imagina quantos outros sequer chegam a ser considerados”.
O relator ainda denunciou a violência estrutural contra afrobrasileiros e deixou claro que, em um país onde uma parcela da população pode ser jogada no lixo, a insegurança é enorme. Vale destacar que Voule esteve no Brasil no começo do ano e, para 2023, promete apresentar no Conselho de Direitos Humanos um detalhado informe sobre a situação no Brasil. Entre as várias sugestões, ele lidará com a impunidade e pedirá a criação de um protocolo para estabelecer regras sobre o uso da força.
Clément Nyaletsossi Voule ainda vai defender a reconstrução da relação com a sociedade civil, considerada por ele como “fundamental para lutar contra fome e discriminação”. “Ela deve ser tratada como parceira, e não inimiga”, recomendou. Além do caso de Marielle, Vouler destacou ainda para os riscos que o Brasil sofre nos próximos anos com a liberação de armas e o impacto que isso pode ter no país. “Num país com acesso maior às munições, há uma intensificação maior de gangues”, finalizou.
Fonte: Uol Noticias