Mil quatrocentos e sessenta e um dias ou quatro anos. A forma de contar o tempo não importa. Nesta segunda-feira, 14 de março, as famílias da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, assassinados em 2018, irão cobrar mais uma vez das autoridades a solução do crime que chocou o país. E, numa nova tentativa de responder à pergunta “Quem mandou matar Marielle e Anderson?”, a força-tarefa criada pelo Ministério Público do Rio (MPRJ) decidiu dar um passo atrás e revisitar os dados levantados até agora em busca de detalhes desapercebidos que possam ter passado no labirinto da investigação.
A compra de uma nova versão do programa do equipamento israelense Cellebrite, que extrai e recupera dados deletados de celulares, é um dos caminhos para elucidar o caso. O coordenador do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MPRJ, que também chefia a força-tarefa do Caso Marielle e Anderson, Bruno Gangoni, ressaltou que o avanço da investigação depende dessa reanálise de provas, uma vez que, no primeiro ano do caso, houve muita pressão para se resolver o duplo homicídio.
Não à toa, em março de 2019, foram presos o sargento reformado da PM Ronnie Lessa e o ex-policial militar Élcio de Queiroz, acusados de serem os executores. Para Gangoni, com mais promotores debruçados sobre o caso, atualmente são oito, além de mais analistas, aumentaram as chances de encontrar alguma nova pista: — Estamos dedicados, escutando áudios e vendo imagens. Tem muito material que ainda não foi analisado. Recebemos imagens novas da Delegacia de Homicídios da Capital (DHC), a que nunca tivemos acesso antes. A prova é praticamente digital nesse homicídio, e as empresas de tecnologia vão se aperfeiçoando. Por isso, vamos passar os telefones do Lessa no novo programa do Cellebrite, para extrair dados que não conseguimos antes — explicou o promotor.
Dois nomes
O Gaeco recebeu da Polícia Civil 1.300 imagens novas na última terça-feira, 8, a poucos dias de o crime completar quatro anos. Questionado sobre a demora na entrega desse material, Gangoni disse que é preciso ver antes se há algo relevante nos dados. Já a Polícia Civil respondeu que não comentaria provas sob sigilo.
Segundo o promotor, as linhas de investigação sobre o mandante da morte de Marielle estão focadas em dois nomes: o do ex-vereador Cristiano Girão, que cumpriu pena por participação em milícia, e o do conselheiro afastado do Tribunal de Contas do Estado (TCE) Domingos Brazão. O primeiro é suspeito de contratar Lessa para executar um rival nos negócios da milícia na comunidade Gardênia Azul, na Zona Oeste do Rio. Girão encontra-se preso por isso. Já Brazão responde a um processo por obstrução da Justiça, no qual é acusado pela Procuradoria-Geral da República de atrapalhar as investigações do duplo homicídio.
O caso já está no quinto delegado e dois presos vão a júri popular.
“Há uma falta de respostas. Entendemos que este foi um crime muito bem arquitetado, que trouxe à tona as fragilidades da democracia brasileira. A resposta a esse crime não é apenas para a família da Marielle, mas para o mundo inteiro, que segue cobrando justiça. Nossa maior preocupação é que esse caso caia no esquecimento, que a gente siga sem saber quem mandou matá-la e qual foi a motivação para alguém atirar 13 vezes naquele carro, atingindo a cabeça da minha irmã cinco vezes”, disse a irmã de Marielle e presidente do instituto que leva o nome da vereadora, Anielle Franco.
Instituto Marielle Franco
“Em 2020, criamos uma agenda Marielle Franco, onde colocamos todos os projetos que ela havia pensado naquele 1 ano e três meses de mandato. Também lançamos livros e histórias em quadrinhos. Temos combatido nacionalmente a violência contra as mulheres. O instituto hoje faz trabalhos diversos”.
Com imagens reproduzidas da Internet