Região Amazônica, pantanal, Caatinga, Pampa e Mata Atlântica são lugares possíveis para encontrar produtos que dialoguem com o conceito da sociobiodiversidade como o açaí, o guaraná e a tapioca
Você já ouviu falar em sociobiodiversidade? A palavra pode ser pouco conhecida, entretanto ela representa o encontro da diversidade biológica e da sociedade. O biólogo e pesquisador federal Frank Alarcón explica que a sociobiodiversidade é um conceito muito recente que busca expressar a inter-relação entre dois componentes: a complexa biodiversidade existente no planeta e a complexa diversidade de sistemas socioculturais existentes no planeta e em todos os seus continentes.
Segundo Alarcón, existem diferentes grupos que manifestam complexas relações sociais e por que não dizer culturais. Esses elementos reunidos e considerados na sua complexidade e nas suas interações foram reunidos nesse termo denominado sociobiodiversidade.
O pesquisador explica que os produtos que caracterizam esse conceito são aqueles que são extraídos das comunidades mais tradicionais, como as comunidades ribeirinhas, quilombolas, grupos indígenas, que por intermédio de suas tradições, de seus conhecimentos, conseguem extrair dos seus ambientes de vivência produtos que podem ter interesse para a coletividade, como os produtos que costumam ser extraídos da floresta.
Dentro do contexto brasileiro, Frank Alarcón afirma que é fácil identificar alguns produtos bem representativos desse conceito da sociobiodiversidade como o açaí, o guaraná e a tapioca. “Todo lugar do Brasil onde você vai, irá encontrar bebidas feitas à base de guaraná, não somente bebidas, mas também outras refeições, outros tipos de alimentos ou produtos com guaraná. Por exemplo, é uma semente que está presente na vida do brasileiro há muito tempo e que consegue congregar esse conceito da sociobiodiversidade de maneira muito simples”, exemplifica.
Ele cita a Região Amazônica, com seus nove estados, o Pantanal, a Caatinga, o Pampa e a Mata Atlântica como lugares possíveis para encontrar produtos que dialoguem com o conceito da sociobiodiversidade.
Para o especialista em meio ambiental, Charles Dayler, a sociobiodiversidade tem uma representatividade muito grande para a economia do país. Ele ressalta que essas iniciativas geram recursos financeiros e, por consequência, ajudam a melhorar a vida das populações tradicionais. Segundo o especialista, isso gera uma margem de independência para eles em relação ao poder público e ainda atua na melhoria da qualidade de vida. “Quando pensamos em um país onde há uma população que ela passa a se tornar autossuficiente por meio da exploração do seu próprio trabalho, isso interessante para o país porque favorece o desenvolvimento dessa população e favorece o desenvolvimento dessa população localmente. Ou seja, vai melhorar a economia local, então além da população diretamente afetada você vai ter os benefícios indiretos.”, salienta.
Como esse conceito ainda é recente, o biólogo e pesquisador Frank Alarcón revela que os dados ainda são muito modestos. “É preciso que sejam feitos estudos muito mais robustos, aplicados por especialistas no sentido de entender qual é a distribuição, qual é a presença e quais são os números que movimentam uma economia que se baseia em produtos da natureza”.
Ele reconhece que a representatividade de produtos que dialoguem com esse conceito da sociobiodiversidade é bastante significativa, mas ainda é menor do que aquilo que se desajaria.
Na opinião do especialista em meio ambiental, a sociobiodiversidade consegue trazer vantagens tanto para o meio ambiente quanto para o agronegócio. “Quando a gente tem esse tipo de produção, o uso de insumos não é intensivo então você vai ter sistemas agroflorestais, agricultura familiar, permacultura, muito do cultivo orgânico e tudo isso leva a menos intervenção do solo, menos uso de agrotóxicos. Quando você vai fazer o uso de fertilizantes, alguma porção desse material utilizado tem origem orgânica então quando a gente pensa em termos ambientais o impacto é menor e os beneficios também”, pontua.
Fonte: MAPA